Garota de Ouro [Million Dollar Baby] de Clint Eastwood

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garota de ouro, foto imdb.com

clint eastwood embarca na pieguice

O cinema americano desandou. Fiquei estupefato com o filme de Clint Eastwood. O eterno mocinho do faroeste espaguete sabe muito de cinema. Ele não veio para inventar, mas suas obras, com particular destaque para Imperdoáveis (Unforgiven), mostram que o homem entende do ofício e está bem posicionado como produtor e diretor de filmes – como dizer? – arrumados. Pois é, a idade bateu. O velho Clint dá sinais de caducar. Seu filme Garota de Ouro (Million Dollar Baby) é quase ruim. É um show de pieguice e lugares comuns sentimentais em filme pré-fabricado para atender aos critérios da disputa pelo Oscar. Clint abusa das fórmulas para fazer filme para o povão americano, apelando de todo jeito. Dessa vez ele radicalizou. Se filme mostrando sagas de vencedores faz sucesso, se filmes tratando de deficientes físicos toca o coração e a carteira do público, por que não juntar as duas coisas? O diretor faz isso com uma mão tão pesada que chega a dar constrangimento em quem tiver um mínimo de senso crítico e não se entregar às armadilhas vulgares que ele utiliza para extrair lágrimas da platéia. Os sintomas do golpe engendrado pelo ambicioso diretor são óbvios. Ele cria um trio de alta receptividade para as platéias. Um é o próprio Clint Eastwood, atuando bem como o treinador Frankie Dunn, cheio de culpas com a filha – ou seria um diretor de cinema cheio de culpa com o produto do seu trabalho? – que encontra a filha que todo pai queria ter. Tem também o sempre correto Morgan Freeman, como o coadjuvante que amarra as situações e faz a história andar. E tem a menina de ouro, Hilary Swank, fazendo a lutadora de boxe Maggie Fitzgerald, que é o melhor do filme. Swank tem uma beleza estranha, às vezes rude, às vezes terna, e defende seu pesado personagem com garra extraordinária, tornando-o minimamente assistível. A atriz é realmente uma força da natureza. Lembram de Meninos Não Choram (Boys Don’t Cry), onde Swank é um menino? Seu rosto anguloso lhe deu agora os recursos necessários para encarar o papel de boxeadora. A atriz não baixa a guarda em nenhum momento da interpretação. Já levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama. Swank põe na sombra até Morgan Freeman, que não é bobo e soube se colocar no canto do ringue, garantindo o brilho como coadjuvante.

E a história? Se você está com problemas e quer se entregar à terapia da emoção e choro livre, vá fundo. Conforme o filme se encaminha pro final, Clint Eastwood, arrebenta a boca do balão e mergulha na tragédia. Ele simplifica o mundo e produz falhas graves de aderência à realidade. Passa por cima da lógica, talvez por falta de tempo, produz um final de filme que oscila entre o seríssimo e o ridiculamente sentimental. Mas o que está valendo é jogar a emoção da platéia na lona e obter os votos da Academia do Hollywood. Este é o jogo sujo do diretor. Ele pode ver o público americano como um bando de espectadores embotados que precisam de doses cavalares de adrenalina para sair do coma de um povo que elegeu Bush por uma segunda vez. Mas, para alguém semidesperto, a presepada pomposa do filme é torturante. Tirando o trio ternura central, o resto dos personagens são um desfile de caricaturas. A cena do hospital, com a família gulosa da lutadora, é constrangimento para se ruborizar e virar o rosto. A musiquinha de fundo, feita para dar o tom da lágrima que corre, vira o estômago. Resumindo, é pura apelação.

Para não dizer que não há mais nada a se falar sobre o filme, ainda há comentário negativo a ser feito. O treinador passa a sua pupila a preocupação com “se proteger todo o tempo”. Isto é parte central do enredo. Esta ênfase em se proteger parece coisa liminar ou subliminar do medo americano de hoje. Eles estão certos que se descuidarem e olharem pro lado, qualquer subdesenvolvido pode violar uma regra e fazer uma bomba nuclear. Sei não. Essa mensagem do filme pode ser produto da mediocridade de visão do mundo que a sociedade americana tem hoje, pode ser minha paranóia intelectualizada ou pode ser o Alzheimer que chega para Eastwood.

[Ernesto Friedman]
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3 comentários em “Garota de Ouro [Million Dollar Baby] de Clint Eastwood”

  1. ae vc ñ entende de filme vc soh gosta de filme que no final te agrada se vc qr um filme assim tem varios que soh de vc assistir meia hora vc ja sabe todo o resto ou filmes q são quase iguais… ¬¬

  2. recebido por e-mail:

    Crítico Infeliz

    Acho que vc foi muito infeliz nos comentários sobre o filme Garota de Ouro, pois de filmes em que sempre terminam da forma que imaginamos o cinema está cheio, este não termina da forma convencional, ele muda o parâmetro final e consegue passar emoção ao público. Crítica Infeliz a sua Ernesto Friedman, Infeliz!!! Marcio Medeiros

  3. recebido por e-mail:

    05.07.2007
    Sobre a crítica do filme “Garota de Ouro”, eu discordo do nobre edil no que se refere à apelação do Sublime diretor Eastwood. Trata-se de um monstro do cinema, não havendo no Brasil que lhe ombreia na arte. Há muito não assistia um filme “simples” como Garota de Ouro que despertasse tanta catarse, tanta admiração do público, sem falar dos Oscars arrebanhados. Talvez ele tenha exagerado um pouco em alguns aspectos, como na cena ridícula da família no hospital, mas em outras ele foi gigante, como a quebra do próprio preconceito, das lições, não de lutas, mas de vida que passa ao longo do filme. Na minha opinião leiga, foi um ótimo filme. A maioria do elenco é de primeira, com algumas exceções, caso da irmã da lutadora,pouco convincente, e de outros frequentadores da academia, apagados… Fechando o comentário, a atuação da protagonista foi mais que perfeita, fazendo jus ao oscar que recebeu, além de outros prêmios. Foi feliz, caro crítico de cinema, quando mencionou a beleza, ora rústica, ora suave, ora onipresente da moça, é realmente o que escreveu. Ela não é linda, não é feia. É bonita, às vezes mais, às vezes menos, é de uma beleza indecifrável…Obrigado pela chance. Messias, Belo Horizonte

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