Uma semana de circo e descaso

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Teve presepada em todos os níveis. Comecemos pelos camarotes. Amy Winehouse veio ao Brasil recompor o caixa, que tem sofrido grandes retiradas para pagar o champagne, as pizzas e as clínicas de reabilitação. Foram polpudos 12 milhões de reais. Um espetáculo de grana. De música, foi menos. A moça faturou, bebeu todas no hotel de Santa de Tereza, que ficou muito famoso, belo tiro de marketing. Os artistas da moda foram aos shows de graça às custas do banco patrocinador. E ficaram todos felizes. Menos eu, que não fui convidado. Registro aqui minha inveja de ter perdido a boca livre.

Já, para o povo da arquibancada, foi armado o espetáculo “A Volta de Ronaldinho”, o gaúcho que não quer jogar no Rio Grande do Sul. O noticiário inclemente chegou a incomodar, analisando de todas as formas banais possíveis o leilão do ex-craque, que, depois de ficar com as grossas pernas bambas, vem faturar seu último caro suspiro nos clubes brasileiros. O número do seu salário mensal ultrapassa um milhão de reais. Acho muito dinheiro, mesmo sendo flamenguista doente (tenho uma micose na unha do dedão do pé que não me larga), e não gostar muito de futebol. Mas um evento que consegue mobilizar aquela turba apenas para receber o jogador na Gávea, merece atenção como show. Só com as camisas número 10 do Flamengo, vai se faturar uma grana. Futebol é mesmo a mais perfeita definição de circo para nossos tempos.

Enquanto a Gávea fervia na recepção do decadente Ronaldinho, os deuses despejavam histórica tromba d’água na região serrana do Rio. Foi um fenômeno meteorológico absolutamente anormal. Por mais que estivéssemos preparados, seria uma tragédia. E não estávamos preparados. As casas mais humildes brotam com naturalidade nas encostas mais íngremes ou dentro dos rios, construídas como palafitas. Morreu muito mais do que a divina providência poderia determinar. Presidente e governador, compungidos, sobrevoaram e visitaram os impressionantes destroços. Prometeram verbas para reconstrução. O povo, sensibilizado, vai ajudar agora, quando ainda se procuram os corpos. O passar do tempo vai fazer seu trabalho. O sol vai voltar e o carnaval tomará conta das preocupações. Os políticos submergirão, burocratizando as ações que poderiam reduzir os mortos num cataclismo como esse. Os interesses políticos impedirão a retirada ou impedimento de obras em local de risco. A vida voltará ao normal. Vamos rir e tomar cerveja até a próxima tragédia.

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