Colapso: Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso [Jared Diamond, 2005, Editora RCB]

---------------------------------------------
Como ficar rico a qualquer custo
Um guia radical em forma de sátira! Uma sátira com fundo de verdade? Você decide. Veja o novo livro de Ernesto Friedman na Amazon: A Receita - como enganar muitos e sorrir
---------------------------------------------

Magnífico! Um livro essencial. Depois de ganhar o prêmio Pulitzer com seu famoso livro ““Armas, Germes e Aço””, Jared Diamond nos traz “Colapso”, antológico trabalho sobre a evolução das sociedades. Ele analisa com detalhe e elegância, porque elas sucumbem e porque são bem sucedidas. O livro é um curso intensivo para nos atualizarmos sobre as dificuldades do relacionamento da humanidade com a natureza. E está na hora de se informar sobre o assunto. O meio-ambiente está na pauta do dia. Diamond fornece a justa dimensão dos problemas do desmatamento, da poluição industrial, do crescimento da população. Não é pouca coisa. Ao longo da existência do homem na Terra, populações inteiras tiveram oportunidade de sobreviver e escolheram o caminho da extinção. Diamond não esquece de nos mostrar casos positivos, em que, apesar de limitações naturais fortes, comunidades conseguem sobreviver.

Diamond aplica seu modelo de análise a grande número de civilizações da história. Mostra-nos com inteligência as trajetórias dessas civilizações até a falência. Ele nos apresenta a fantástica trajetória da Ilha da Páscoa, cujos habitantes originais chegaram até a ilha num barco, vindo da Polinésia. A população se desenvolveu, chegando a 5000 pessoas, e viveu isolada ali por 500 anos. O desleixo com o meio-ambiente e a falta de ações de seus líderes levaram esta sociedade à pura e simples extinção. Quando os navegantes portugueses chegaram à ilha, só havia grandes estátuas de pedra. Erich Von Däniken, um charlatão famoso nos anos 70, explicou de maneira bizarra o desaparecimento dos habitantes da Ilha da Páscoa e os enormes monumentos que eles construíram: seres do espaço teriam vindo à Terra, ensinaram aos habitantes a construir os monumentos e foram embora. Simples, não é? Diamond nos mostra os erros que conduziram ao desaparecimento da gente da ilha. A derrubada das florestas destruiu a capacidade dos habitantes da Ilha da Páscoa de sobreviverem. A história é trágica e passa por um final onde até o canibalismo é usado como meio para sobreviver. Por outro lado, encontramos uma ilha com duas milhas de diâmetro, no Pacífico, em que a população percebe suas dificuldades e desenvolve mecanismos para produzir o sustento e tornar viável a vida na ilha. Ou seja, há salvação.

Colapso é um abrangente curso de história focado nas características dos povos, as vantagens que tinham para sobreviver e os defeitos que os levariam a morte. Maias, vikings, esquimós, japoneses, chineses, australianos e muitos outros têm sua história contada ou seu presente analisado pelo modelo de estudo de Diamond. Você sabia que o Japão, que sempre associamos a uma congestionada Tóquio, tem 78% de seu território reflorestado. Tudo acontece por que a dinastia Tokugawa, no século XVII, percebeu que as florestas da ilha estavam desaparecendo e atuou para resolver o problema. Ao mesmo tempo, o miserável Haiti, onde a população ainda vive de frágil agricultura familiar, só dispõe de 1% de seu território com florestas. Os exemplos se sucedem e os problemas decorrentes são minuciosamente analisados. A abordagem segura de Diamond nos mostra que preocupação com meio-ambiente não é frescura. Não é livro fácil. Para muitos, nestes tempos de simplificações e resumos, será intragável. Para outros, será um divisor de águas, será a descoberta de uma nova maneira de ver o mundo e a história. Pode ser o livro que vai nortear a vida profissional de um leitor.

O estilo de Jared Diamond me lembra Stephen Jay Gould, que escrevia sobre história natural. São escritores que têm o dom de criar uma estrutura de conhecimento que abre novas portas para o leitor que os encontra. A abordagem de Diamond nos traz uma nova visão sobre problemas sociais contemporâneos. Sua análise do extermínio de Tutsis pelos Hutus, na África, é um exemplar magnífico de explicações simples não são boas receitas para tratar a história. A alta densidade demográfica e a escassez de recursos decorrentes da exploração desenfreada do meio-ambiente aparecem como fatores que não podem ser desacreditados na justificativa do extermínio de cerca de 10% de uma população. A visão malthusiana buscada por Diamond, nos traz novas possibilidades de análise de problemas que superficialmente podem ser descritos como decorrentes de baixo índice de educação ou puro racismo. O motivo não foi apenas o ódio dos Hutus pelos Tutsi. Diamond aponta que em certas regiões, onde só havia Hutus, o extermínio chegou a 5% da população. Havia outras causas.

A visão míope do governo americano do presidente Bush se torna mais crítica depois de lermos Colapso. A recusa da rica civilização americana em enfrentar o problema do meio-ambiente pode ser o prenúncio do final da civilização no planeta? A poluição em larga escala da China será o limitante do mega crescimento dessa economia? No quadro mundial, com as queimadas da Amazônia, o Brasil aparece mal na foto. O livro de Diamond nos mostra o quanto críticas são as ações demandadas para tratar esses problemas.

Um pensamento leva a outro. Vendo o que os desequilíbrios podem fazer com as civilizações, pensei aqui com meus botões. Imaginem uma cidade como o Rio de Janeiro. Aqui, as mães ricas (renda maior que 10 salários mínimos) têm em média apenas um filho. Já as mulheres pobres (renda na faixa de 1 salário mínimo) têm mais de 5 filhos. A população cresce com maior número de crianças miseráveis, sem instrução e sem opções na vida. A massa de ignorantes vai crescer se tornando a grande maioria. A população jovem será manipulada por traficantes de drogas, traficantes de deuses (franquias de religiões) e traficantes de cidadania (políticos corruptos manipulando promessas sociais que não serão cumpridas). Por uma bolsa família, os governantes se perpetuarão no poder, agravando os defeitos de uma sociedade que perde a oportunidade de aproveitar seus potenciais. O desequilíbrio criado pode ser o causador de uma guerra civil. Em tempo: a Vila Cruzeiro está sitiada há mais de 40 dias e os traficantes não parecem dispostos a ceder. A guerra civil Carioca vai reduzir a capacidade produtiva da cidade e do estado do Rio. A indústria migrará para outros estados ou paises, aumentando o desemprego. A falta de turistas afugentados pela rotina de crimes diminuirá a oferta de empregos em serviços. A “taxa diária de balas perdidas atingindo pessoas” maior que um caso por dia, não é grande atrativo para chamar um viajante ao Rio. O desemprego contribuirá para o aumento do crime organizado ou não. O ciclo de piora acelerará a decadência da cidade. Este exercício é pura paranóia ou apenas a previsão óbvia de nosso futuro? A falência anunciada do Rio de Janeiro pode ser um bom caso de colapso para ser estudado no futuro pelos discípulos de Diamond.


você pode comprar este livro agora pela internet 


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.